domingo, 30 de outubro de 2016

Mais um conto de Samhain



Ele olha pelas frestas da janela e vê a noite caindo. Um vento frio sopra lá fora anunciando o que está por vir. Está chegando a hora. Sabia o que devia fazer naquela noite. Já havia feito isso várias vezes. Foi uma longa jornada, cheia de paixões, diversão, desilusões e aprendizados. E um grande Amor. O dia foi longo. 
Calmamente ele se levanta, coloca o seu casaco, dá mais uma olhada naquele lugar que lhe serviu de morada nessa vida, atravessa a porta e alcança a rua. O vento soprava pelas arvores e casas, provocando uivos assustadores. Corujas voavam de um lado para o outro, piando como se quisessem anunciar alguma coisa para as pessoas. Os gatos do vilarejo, pulavam de telhado em telhado, arrepiados e miando um canto triste. Mas ele sabia que não havia tristeza, era um reencontro. Já vivera isso. A taverna, onde a muito se divertira, com mulheres e bebedeiras, hoje estava fechada. Apenas uma lanterna em seu interior demonstrava um pouco de vida. As ruas estavam vazias, as pessoas estavam recolhidas em casa, ninguém ousava sair naquela noite. As pessoas estavam assustadas com os seus próprios demônios. Mas não eram seus, ele não compartilhava com isso. Ele se aproximou de uma janela e viu algumas crianças brincando no fogo alegremente enquanto os pais se entreolhavam assustados. Sim, as crianças sabem como viver. O medo implantado em seus pais era infundado. Afinal era um momento de reencontro e ele sabia disso. Pegou uma abobora, no quintal do casebre, retirou seu sabre e talhou uma lanterna. Ascendeu uma vela e continuou andando pelas ruas escuras, sabendo que sua jornada estava no fim. Deveria aproveitar o momento os Véus já estavam abertos. Ele queria ficar, queria voltar para Ela, mas precisava renascer. Precisava deixar para trás o que era velho, se quisesse ficar, devia renascer. Esse era o grande mistério escondido das pessoas. E para isso precisava partir. Já na saída do vilarejo, olhou mais uma vez para trás e observou o lugar onde havia sido muito feliz. Sabia que não o olharia mais com os mesmos olhos. Afinal tudo muda nessa eterna roda do destino. Precisava enfrentar o decimo terceiro arcano e agora era a hora. Depois celebraria com seus antepassados a gloria das épicas batalhas da vida. Brindaria ao amor e a honra do bom combate. Reafirmaria os laços de amor e no próximo solstício, o Sol o traria novamente ao mundo.
Ao longe, Ela podia ver aquele homem, que tinha todo o seu amor, segurando uma lanterna de abobora, atravessando as brumas e cruzando os véus dos tempos e dos mundos. 


Uma feliz partida para um feliz reencontro.


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