Numa tarde de final de primavera, lá ia o Andarilho atravessando apressadamente um estacionamento, quando uma cena o paralisou. Um carro acabava de passar vagarosamente na sua frente e pasmem estava enfeitado a moda antiga, com desejos de felicidades escritos com pasta de dentes, papel higiênico e uma “rabiola” de latas. Fazia tempo que não via um desses. Era um carro de recém casados. Ele atravessou a rua e parou para observar um grupo de pessoas bem arrumadas no meio do estacionamento, todas felizes e conversando entre si e as vezes até saltitando. Olhou para o lado e lembrou-se que ali havia um cartório. Novamente voltou a fitar aquelas pessoas. Haviam acabado de testemunhar um casamento, mais que isso, haviam comungado de um sonho de alguém querido, que acabava de compartilhar os seus próprios sonhos e por que não a vida com alguém amado. Então ele viu tantas possiblidades de uma nova vida, tantos sonhos a serem vividos, tantos planos, tudo envolvido pelo entusiasmo, que contaminava a todos ali, inclusive ele. Que energia boa essa ! Pensou consigo mesmo. Apesar de já haver presenciado vários casamentos, esse tinha um algo a menos, que virou a mais. A simplicidade. Sem glamour, sem festas gigantescas, apenas os dois sonhadores e seus entes mais queridos.
O Andarilho não conseguia tirar os olhos daquela situação, mas tinha que ir, pois também estava comprometido com o sonho de outras pessoas. Aproveitou para absorver um pouco daquela energia e sentiu um pouco daquele cheiro, cheiro de sonhos, cheiro de vida. Foi se afastando, agora um pouco mais devagar, se deliciando com um pouco do entusiasmo recobrado.