sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Enamorados em Beltane


     Sentado numa rocha a beira mar, o Andarilho, fecha os olhos e sente o gosto do mar em seus lábios cerrados. Escuta uma gaivota, mergulhando atrás de sua janta. Percebe os últimos raios de sol e um vento do norte beijando sua face. Logo se vê correndo na mata de uma pequena aldeia na França. Século 18, a era das trevas ainda não havia acabado. Mas hoje era dia de festa. A lua cheia ilumina o seu caminho até uma pequena casinha já na periferia da aldeia. De longe atira algumas pedrinhas numa janela com uma pequena fresta. Logo uma silhueta feminina, salta da janela e vai ao seu encontro. Ele a convidara para uma festa na floresta. 
     Era uma noite especial, seus amigos já haviam preparado tudo. Sabia que as coisas já não eram como antes. O grupo estava rachado e seus amigos não comungavam, mas os mesmos objetivos. Mas era um dia de festa. A lua cheia brindava a fogueira de beltane. Ela não sabia de nada, não imagina que era um amor perigoso, que ele poderia ser preso a qualquer momento. Ela só queria se divertir com seu amor. Atravessaram a floresta de mãos dadas, até chegarem numa clareira, onde já crepitavam as chamas de uma grande fogueira. Ele se dirigiu a centro e abraçou alguns amigos. Em especial um casal que pareciam dirigir a festa. Apresentou sua companheira que foi recebida com um copo de vinho. 
     Já passava de meia noite quando um som de tambor ecoou na clareira, induzindo as pessoas já bem alegres com o vinho, a dançarem em volta da fogueira. Os corações batiam no ritmo do tambor, ou seria o inverso, tudo bem, em pouco tempo ele sentia o cone. Após anos de treinamento, ele era capaz de sentir e distinguir o cone. Sabia também o que seria feito com o cone e as consequências que essa atitude traria. Eles haviam ido longe demais. E então diminuiu a dança. No momento seguinte, após um gesto de R. todos caíram no chão sorrindo e cantando. Assim honrando o festival, os casais se retiraram para uma relva, ao lado da clareira e promoveram o grande casamento. Sonolento ele olha para seu amor, deitada ao seu lado, totalmente entorpecida e lembrou que beltane também lembra os enamorados. Era hora de tomar uma decisão. Olhou de longe para o casal de amigos e silenciosamente se despediu deles. “Amigos, ainda nos veremos, nessa ou na próxima vida”. Ele acabara de optar pelo amor daquela mulher, o que significava que não voltaria mais ali, não veria mais seus amigos, nem em festa, nem no ardor dos piromaníacos.
     Lentamente foi acordando ela, sussurrando em seus ouvidos. Tomou suas mãos e seguiu rumo à floresta. Uma escolha foi feita, uma escolha de vida. 
     O vento sopra mais forte, uma lagrima rola do rosto do andarilho. Uma lagrima de saudades, de bons momentos vividos também nessa vida, com seus eternos amigos. Muitas saudades de vocês R. e D. Abençoados sejam.