A festa acabou, pelo menos para o Andarilho. Nada daquilo fazia sentido, não era o seu mundo. Havia ido por educação ou para agradar alguém. Mas agora chega, queria ficar quieto, sozinho. Precisava tomar uma decisão, aguardava a festa acabar, sentando num canto, ou vencia a escuridão do caminho. Esperar a festa acabar, para ele, seria uma violenta derrota para os seus princípios e desejos. Então resolveu enfrentar a noite escura. A lua cheia iluminava o íngreme caminho, daquela estrada de terra batida, resfriada pelo inverno. Os temores e a sensação de estar sendo vigiado, faziam o coração do Andarilho ficar inquieto. Fadas da noite, gnomos, espíritos brincalhões ou guias, ou ainda quem sabe um saci ou qualquer entidade do folclore brasileiro. Todos povoavam os medos e anseios do Andarilho. Assim é a noite escura, avançamos no desconhecido, nossa mente se perde diante do desconhecido. Nossa visão racional falha, enquanto que os outros sentidos ficam aguçados, uns até demais. Escutava todos os barulhos que a natureza podia fazer, de grilos a cachoeiras. O assustador eram aqueles que não davam para identificar. A estrada era tortuosa e cheia de pedras e buracos, todo cuidado era pouco. Nesse momento seu coração, recebeu uma dose de luz e começou a dizer para o Andarilho que a vida era exatamente assim. Quando nos enveredamos por caminhos desconhecidos, sentimos medo, a estrada é tortuosa e temos sempre que transpor os obstáculos que não conseguimos ver direito, mas estão lá.
O importante, continuou ele, é continuar caminhando e sempre se lembrar que uma luz prateada no céu está sempre iluminando o seu caminho. Caminhe, aprenda e sinta a presença divina te guiando, basta olhar para cima.
Ao deixar o caminho uma luz forte de uma lâmpada, ofuscou a vista do Andarilho. Lá estava o fogo aceso e crepitando, oferecendo um confortante calor e um café. Agora era hora de descansar. Ele olhou para o Céu, admirou a lua cheia por um instante, fez uma oração juntamente com seu coração e entrou na casa indo em direção ao fogo.