quinta-feira, 28 de abril de 2011

Fale Comigo

Fale comigo,
Fale coisas que me remetam aos mais ternos anos.
Anos em que podia sentir o cheiro do milharal na roça. Sentir a doce brisa beijando o meu rosto no açude.
Os inocentes girinos brincando no açude, então eu, papai e meu irmão esperávamos que algum peixe afoito mordesse uma das iscas.
Aquelas noites ao lado do fogão de lenha, com a vovó cozinhando o angu do papai.
Fale comigo, doces palavras que me levam as lindas manhas frias com neblina e um solzinho tímido, que anunciava mais um maravilhoso dia.
O cheiro da lenha crepitando no fogo, o cafezinho moído na hora e pronto. Já estávamos aptos a correr pelo terreiro. A aventura de desbravar milharais e cafezais.
Fale-me dos cafezais que nos serviam de esconderijos para o pique esconde. Quero lembrar de meu irmão e minhas primas. Inocência pura, vida pujante.
Fale-me, eu quero ouvir, quero sentir e lembrar.
Fale que essas coisas não estão guardadas apenas na minha cabeça e sim na memória do tempo. De tempos felizes, de vida.
Fale-me daquelas tardes frias, vendo o sol se pôr, vovô ligando a luz no moinho, e todos se sentados a beira do fogão de lenha. Onde  as  chamas crepitavam, no ardente  jogo  de salamandras.  
Fale-me do pão sovado, do sabor das mangas, recolhidas ainda com o orvalho da manhã. O leite quente, o cheiro do mato, da mata, o cheiro de vida.
Por favor, alguém fale comigo. Fale comigo dessas coisas, de amor, da natureza e de meus antepassados queridos.
Fale comigo que tudo será dito e tudo será vivido. Que assim seja e assim faça.