terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Há 15 anos

Há 15 anos você nasceu, as contrações vinham aumentando devagar e então um grito ecoou em volta da maternidade do hospital. Vi você ser limpa pelas enfermeiras, fotografei cada momento. Em algumas horas lá estavam os seus avós te visitando me enchendo de orgulho. E então você cresceu éramos cúmplices, você e eu. Inteligente e bonita se destacava nos primeiros anos de estudo. Uma vez fui te buscar na escola depois de uma briga de colegas, e vi os seus olhos assustados, mas quando te dei razão ao invés da professora, ganhei um abraço e um choro contido. Mas veio a separação, você foi arrancada de mim como se fosse um marginal. A distancia imposta a nós foi uma bomba em meu coração. Segui a vida, e resolvi que ia me preparar para um dia te receber. Ter condições de te dar o melhor. E durante esses anos fiz de tudo para ficarmos perto o máximo possível. Viagens, passeios sempre que você precisou eu não media esforço para rodar mil quilômetros para ter você mais perto. Então a adolescência chegou, seus interesses mudavam, seus irmãos chegaram e você se afastava, vivia num mundo de amigas e interesses fúteis. Mas eu seguia meu plano, eu ia viver com você. Fizemos nossa primeira viagem internacional juntos. Adorei fazer isso, com 13 anos você saiu do país, e eu estava com você. Mas o que deveria servir para aproximar, só fez afastar. Comecei a ser um “paitrocinador”, nada mais que isso. Apesar de sofrer, continuava os meus planos, eu podia mudar, tinha certeza disso. Acho que estava parecendo um adolescente também. Então chegou o momento, acabou o primeiro grau e eu poderia te oferecer uma escola legal com todas as aulas que você sonhava, música, artes cênicas , dança.... Fiquei feliz, te fiz uma homenagem, dancei a valsa e ajudei a fazer a festa dos seus sonhos. No retrovisor enfim eu via meus filhos juntos, hora discutindo, se ajudando, nada mais me faria tão feliz. A não ser o momento que te vi com o uniforme do La Sale, foi como se uma parte da minha vida passasse diante de mim. Mas bastaram 2 dias, míseros 2 dias, que é a distancia entre o paraíso e o inferno. Tudo que acreditei, que sonhei foi jogado no lixo por você. Mais uma vez com argumentos infantis e fúteis, recebi uma punhalada. Abandonou sua nova vida, sua nova oportunidade. Deu adeus ao convívio familiar dos seus irmãos, da sua afilhada, por aplausos num picadeiro circense mambembe. Comprou todas as perdas impostas, acreditando na impunidade. Nada pude fazer, pois você pertence a sua mãe, que preferiu a sua volta depois de uma atuação digna de Hollywood. Contra tudo e todos que gostam de você, fechou os ouvidos e dirigiu os olhos ao umbigo, onde concentram todos os seus sentimentos. E do dia 8 de fevereiro de 2013, você entrou naquele ônibus amarelo, deixando para trás os sonhos, esperanças e expectativas. Como numa foto amarelada pelo tempo, que sabemos que não volta mais. O sentimento de derrota é enorme e tudo que fiz escorreu numa cachoeira de emoções rumo ao sal do mar. Que o sal cure essas feridas ainda expostas, e que as cicatrizes não sejam tão profundas quanto as dores. Nesse dia só posso te desejar, o que um pai que ama seus filhos deseja, que você seja feliz da forma que puder. Feliz Aniversário !!!